05 septiembre 2006

Provável troço de Calçada Romana descoberto em Messines


A presença romana na freguesia de São Bartolomeu de Messines há muito que está atestada pelos inúmeros achados arqueológicos identificados naquela área.

TEMAS: História e histórias do Algarve

Na realidade, os vestígios hoje conhecidos sugerem uma presença importante do Império Romano naquela freguesia do concelho de Silves, muitos dos quais identificados por Estácio da Veiga nos finais do século XIX, na Carta Archeológica do Algarve.

Mas foi ainda no século XVIII que um monumento ímpar foi identificado, entre a então aldeia de São Bartolomeu e a ermida de São Pedro: uma base de estátua em mármore, actualmente depositada no Museu Municipal de Arqueologia de Silves.

Trata-se de um monumento epigráfico funerário e votivo, que, pelas suas dimensões e qualidade, sai da vulgaridade, e terá servido de pedestal ao Deus Júpiter Óptimo Máximo, constituindo o mais meridional testemunho peninsular do culto àquele Deus.

Aparentemente relacionado com uma villa romana, o pedestal constitui um marco da presença de famílias abastadas na freguesia, naquele período.

Mas outros vestígios existem. Várias minas de cobre estão identificadas, como tendo sido exploradas naquela altura, nomeadamente Pico Alto, Cerro de Monte Rosso, Cumeada, entre outras.

Há ainda a salientar cerca de uma dezena de necrópoles e outros vestígios de superfície, de que são um exemplo os identificados recentemente por Jorge Estêvão Correia, em Messines de Cima, todos atribuídos ao período romano.

Confirmada parece estar também a via romana transversal do Barrocal algarvio, que se desenvolveria na freguesia de Messines, desde Messines de Baixo, Portela, Castelo, prosseguindo por Calçada, Cortes, até Torre e Cumeada, desenvolvendo-se depois na freguesia de Silves.

O troço calcetado agora identificado é inédito, localiza-se a sul de São Bartolomeu de Messines, nas proximidades da Ladeira da Bernarda, e terá estabelecido durante séculos a ligação entre o litoral e a serra.

O mesmo poderá ter constituído, caso se confirme a sua origem romana, uma perpendicular de ligação entre os eixos viários principais, longitudinal costeiro e transversal do Barrocal algarvio.

A perda de importância e consequente abandono desse troço terá ocorrido já em finais do século XIX, aquando da construção das novas estradas por toda a região e, no caso concreto, entre S. B. Messines e Pêra e S. B. Messines e Paderne, pela Portela de Messines.

O projecto da então Estrada Municipal de 2ª Classe Nº 72 de Pêra a S. B. Messines, Lanço de Barranco Longo a Messines, aprovado pela Comissão Distrital em sessão de 28 de Maio de 1881, referencia o pequeno troço como «Estrada de São Bartholomeu para Boliqueime».

A nova estrada então construída, designada actualmente por Estrada Nacional Nº 264, entre Messines e o Algoz, acabaria por ser implementada em alguns troços da secular via existente, essencialmente a Norte, subsistindo apenas o troço calcetado que seguiria segundo aquele projecto em direcção a Boliqueime.

O troço agora redescoberto situa-se a meia encosta e desenvolve-se ao longo de cerca de setecentos metros, tendo uma largura aproximada de 3,6 metros, cerca de 1,8 metros para cada lado do eixo, bem definido.

O seu estado de conservação é regular, embora esteja um pouco danificado em algumas partes.

Actualmente, já não se encontra ladeado de valados, tendo estes sido destruídos recentemente para implantação de uma horta.

Contudo, constitui ainda um acesso a várias propriedades rústicas. A meio do percurso dá ligação a um outro caminho, este ainda flanqueado por muros, completamente abandonado, e aparentemente também calcetado.

De dimensões inferiores ao primeiro, apresenta uma largura de cerca de dois metros e prolonga-se até uma velha azenha, cujas ruínas ainda subsistem, e daí pelo vale, para Norte.

Por sua vez, a Sul, o troço calcetado cruzava um carreiro e desenvolvia-se em direcção ao Algoz, num caminho actualmente coberto pela vegetação.

Curiosa é ainda a existência, nas proximidades, de uma hipotética ponte, da qual apenas subsistem alguns blocos da base.

Hoje, esta suposta estrutura não apresenta qualquer contexto no local, pois o caminho terá sido deslocado para Sul, onde, a vau, era atravessada a linha de água, e recentemente, por um pontão construído aquando da pavimentação do carreiro.

A origem romana ou medieval do pequeno troço calcetado, até agora inédito, apenas poderá ser confirmada através da realização de prospecções arqueológicas no terreno, com vista à obtenção de novos dados, que permitam interpretar de facto a sua origem.

Não obstante, a sua redescoberta constitui desde já uma mais valia para o Algarve e em particular para a freguesia de S. B. Messines.


Bibliografia:

«Carta Arqueológica de Portugal, Portimão, Lagoa, Silves, Albufeira, Loulé e S. Brás de Alportel», IPPAR, 1992;
Correia, Jorge, «Levantamento Arqueológico da Freguesia de S. B. Messines», 2003;
Encarnação, José d’, «Sobre a Epigrafia Romana do Algarve», in «Xelb IV - Actas do 1º Encontro de Arqueologia do Algarve» (2001);
Projecto de construção da Estrada Municipal n.º 72 de Pêra a S. B. Messines;
Sandra, Rodrigues, «As Vias Romanas do Algarve», 2004;

Nota: Um agradecimento especial ao Sr. José Vítor Lourenço, presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines.

*investigador de história local e regional

3 de Setembro de 2006 | 09:00
Aurélio Nuno Cabrita*

Fuente: Barlovento on line

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